Sobre o Sr. Joaquim Pedro Dias: 3º Capítulo
Narrativa sobre um Srº muito peculiar de Aldeia da Mata!
Este senhor viveu, em Aldeia da Mata, na segunda metade do séc. XIX e certamente primeira vintena do séc. XX, como já referimos em postais anteriores.
Neste postal nº 50, continuamos as narrativas sobre este personagem de Aldeia. Baseamo-nos na recolha oral efetuada junto de “D. Maribela”, minha Mãe, que já nasceu depois da morte deste senhor, que nunca conheceu, mas sobre quem ouviu contar várias estórias. Era cego dos dois olhos, possuidor de muitas propriedades, Lameira de Cima, Cujancas, Sampaio, Arretalhado, … E era solteiro, embora tivesse uma governanta, também “namorada”. Não tiveram filhos, de modo que os herdeiros dele foram os sobrinhos, filhos da irmã, D. Francisca Valério, sobre quem escrevemos em postal anterior.
(O Srº Tavares, a D. Beatriz e D. Genoveva, os três solteiros. D. Joaquina, casada com Srº João Calado Machado, o “Sr. Machadinho” e D. Maria, mulher do Srº João Lopes. Foram os herdeiros.)
Foi ele que mandou construir a casa, que atualmente é nossa, em 1911, para a sua governanta, a Srª Conceição “Cega”, que era cega de uma das vistas. Na frontaria da casa também deixou a sua marca identitária: J: P: D: e respetiva datação 7 4 1911.
Ele morava na casa atualmente da Prima Maria Constança que delimita e inicia a Travessa do Fundão, a Sul. A nossa, a Norte. Ambas na Rua Larga.
Na sua casa também tem datação, na antiga adega: J P D 3 900.
(São estas datas: 1900, 1901 e 1911, que me permitem inferir sobre espaço temporal de respetiva vivência.)
O Sr. J. P. Dias, que também era cego dos dois olhos, cegou na sequência da rebentação de um tiro de pedreira. Um buraco ficara encravado com a pólvora que não rebentara, quando os cabouqueiros tentavam partir pedra, para construir o monte de Sampaio. No dia seguinte, ele tentou desencravar com um prego grande de ferro e a pólvora rebentou. Assim ficou cego.
A Srª Conceição “Cega” ficou com a casa em usufruto até morrer. Após o seu passamento a casa reverteu para os herdeiros naturais de J. P. Dias. No caso, D. Alice, já 2ª sobrinha, filha de D. Maria e de Srº João Lopes. Esta senhora estava casada com o senhor António Matias. Viviam em Monte da Pedra. (Fui a casa destes senhores algumas vezes, na segunda metade da década de sessenta, acompanhando o Sr. Padre José Maria, quando este ia celebrar missa aos domingos ao Monte da Pedra, pois eu era o sacristão. Estes senhores, por vezes, convidavam o prior para petiscar. Tinham grandes lumes no Inverno, onde assavam chouriços e cacholeiras, num espeto, à borralheira. Para mim, à data, ultrapassava completamente a minha realidade e imaginário!)
Voltando à narrativa fundamental… que isto da “conversa é como as cerejas”…
O Srº Joaquim Pedro Dias também terá deixado marca identitária na Horta de Sampaio?! Hei-de perguntar ao atual proprietário.
Também contarei ainda mais uma narrativa sobre este senhor e outra horta que também era sua: a “Horta do Carrasqueiro”. A Mãe informou-me que aí também há “escritas”. Algo a pesquisar e confirmar “in loco”.
Obrigado por nos acompanhar nestas narrações. Muita Saúde. E Paz!