A Horta do Carrasqueiro – Aldeia da Mata
As funcionalidades da Horta, as Casas
7º Capítulo ainda sobre J. P. Dias!
A Horta do Carrasqueiro situa-se a Leste de Aldeia da Mata e, in loco, pode verificar-se que em linha reta, estes dois locais se interligam ao espaço territorial onde se insere a Anta do Tapadão.
Como horta, murada, terá sido criada para a finalidade a que se destinam as hortas: produção de legumes e frutos para alimento da família que a concretizou e para as que se sucederam na sua posse. Ainda resta parte do laranjal e algumas plantas que embelezavam as hortas: uma rosa loureira, uma lúcia lima. Uma buganvília, junto à parede leste da habitação. O olival, ou parte dele. Não serão necessariamente da época em que a Horta foi constituída. A Horta e o Tapadão chegaram por herança ao Srº Joaquim Lopes, 2º sobrinho do Srº J. P. Dias. Provavelmente terão sido primeiramente propriedade da sua mãe, D. Maria das “Polverosas”, após o falecimento do tio.
Dona Josefa Gouveia comprou as propriedades ao mencionado Sr Joaquim Lopes, aí pelos anos cinquenta do séc. XX, sendo atualmente da Família Gouveia.
O elemento indispensável a qualquer horta é a água. Para o respetivo abastecimento, dispunha de uma nora situada a norte, movida por tração animal. A água para chegar aos terrenos cultivados, situados a sul e a uma cota inferior, era transportada pela força da gravidade. Inicialmente por canalização subterrânea e já no espaço da horta, por canalização à superfície, concentrando-se num pequeno tanque de distribuição para os diversos espaços do hortejo e para o tanque principal, onde também figuram pedras para lavagem da roupa. Todas estas funcionalidades ainda se percebem no espaço, embora já sem a utilidade para que foram criadas. A Horta já não funciona como tal, nem as habitações têm moradores.
E por falar em habitações, que é a expressão correta. A foto documental traduz o afirmado. Duas casas bem harmoniosas, uma destinada ao proprietário, a leste e a do hortelão / caseiro, a oeste. A frontaria virada a sul. Ambos os edifícios encimados por esbeltas chaminés, embora completamente distintos. A merecer uma análise sociológica sobre toda essa distinção bem vincada entre forma, conteúdo, função, estratificação social. A casa do hortelão seria habitada permanentemente, a do proprietário, periodicamente, dado que todos os proprietários tinham habitação na Aldeia.
No caso do Srº J. P. Dias, personagem que desencadeou estas minhas pesquisas, já referi que a sua casa era a atual da Prima Maria Constança, situada na Rua Larga, onde, na adega, está testificado o mesmo sistema documental de posse: siglas do nome e ano de execução, no caso 3 900. Isto é, Março de 1900! (Esta casa também foi de habitação do referido Sr. Joaquim Lopes, ainda nos anos sessenta, de que me lembro muito bem.)
E concluindo, no espaço da horta ainda existe um antigo palheiro e uma pocilga. A criação de um porco, no vertente caso, certamente vários, era indispensável para provimento da salgadeira, isto é, o frigorífico da época, até ao aparecimento e generalização dos ditos cujos a partir de finais de setenta, inícios de oitenta. Grande parte dos aldeãos tinham o seu porquinho que criavam numa pocilga, em quintais próximos das povoações. No inverno, eram mortos para o fumeiro e a referida salgadeira. Tempos idos.
Mas, voltando à Casa. No lado nascente, encimando uma janela no último piso, figuram também iniciais, letras gravadas em pedra, encimadas por uma cruz. Intrigantes as letras, a cruz...
Mas esse assunto fica para próximo capítulo!