E, já agora, uma Azinhaga?
Não se admire se não souber o que é uma atafona. Eu próprio soube há bem pouco tempo. Quando resolvi ir procurar ao Dicionário, neste caso, a Lexicoteca.
Intrigava-me o termo. O que significaria? Julgava que seria um regionalismo, como é por ex. “Altemira”. Porque toda a minha vida ouvira nomear, chamar de “Azinhaga da Atafona”, o espaço, a rua, a travessa, atualmente designada por “Travessa do Fundão”.
Consultei a Lexicoteca e esta informou-me do que transcrevo:
"Azinhaga, s. f. (do Ár. az-zinaqa). Caminho estreito e rústico entre muros, sebes altas ou valados, fora dos povoados.
Atafona, s. f. (do Ár. at-tahuna, moinho). 1. Engenho de moer grão, movido manualmente ou por força animal. 2. Azenha. Andar numa atafona, andar numa roda-viva."
In. Lexicoteca – Moderno Dicionário da Língua Portuguesa – Círculo de Leitores – Vol I – 1985.
Interessante a resposta obtida.
Nunca conheci, em tal Azinhaga, qualquer engenho do tipo designado. Nem as Pessoas mais velhas da localidade alguma vez ouviram falar disso. Todavia tal não invalida que tivesse havido, em épocas transatas, algum tipo de azenha, moinho, do modelo descrito, em tal espaço ou nas proximidades.
(Todos conhecemos nas mais diversas localidades, aldeias, vilas ou cidades, designações de ruas, largos, espaços, travessas, reportando-nos para situações, casos, profissões, acontecimentos, cuja existência no presente não se verifica, mas de que persiste a memória ancestral, nos nomes atribuídos a esses lugares. Por vezes até foram substituídos por placas toponímicas diferentes, mas a designação antiga ainda perdura. Serão dezenas! Alguns em Lisboa, de que me lembro de cor: Campo de Sant’Ana, Campo de Santa Clara, Campo das Cebolas, Mouraria… Em Portalegre: Rua dos Canastreiros, Rua da Mouraria…
A toponímia tem particularidades muito interessantes. Na Cidade de Régio, lembro-me de dois nomes de ruas bem sugestivas. Já falei de “Rua da Paciência”. Também há “Rua da Amargura”. Um tema interessante a desenvolver: os nomes das Ruas.)
Voltando à “Azinhaga da Atafona”…
A respetiva designação sugere-nos, implicitamente, que em tempos mais antigos, “coisas de séculos”, terá por ali havido uma “Atafona”, um moinho de grão, movido por tração animal ou humana.
Que interessante teria sido se, quando batizaram a Travessa, a tivessem nomeado pelo nome por que sempre a conhecemos: “Azinhaga da Atafona”.
Mudar-lhe o nome de batismo outra vez?!
Não. Não julgo que seja para tanto. Apenas que fique registado o nome antigo pelo qual todos nós, os mais velhos, que temos mais de cinquentas, sempre conhecemos tal local.
Este postal apenas pretende isso. Para que a memória perdure!
As fotos além de ilustrarem o espaço da mencionada Azinhaga ou Travessa também apresentam um pedaço de mó antiga.
Esta mó “apanhei-a” bem perto da “Azinhaga”, este ano, num dos montes de pedras, que os javalis e as javalinas fossaram, nestas azáfamas em que eles têm andado este ano.
(E sobre “Azinhaga”, não esquecer que é um nome conhecido mundialmente. Sim. Porque o único Nobel de Literatura Português, José Saramago, era natural de Azinhaga. Registe-se! É só consultar a net.)
Obrigado pela sua atenção.
Votos de muita saúde.