“Meu Canto” – Poema de Rogélio Mena Gomes
«O Percurso Interior das Palavras»
*** ***
«Meu Canto»
«Sigo
o percurso interior das palavras
e o rio da esperança
das águas de todo o ano.
E gritam:
deixa o Dom Quixote
que tens dentro de ti,
larga a lança
que investes
contra moinhos de vento.
Ouço,
respiro fundo
e persisto.
Sigo o percurso interior
das dores do mundo
e o rio de fogo,
do ânimo,
nas asas do sonho
abertas ao vento.
E gritam:
deixa o voo de Ícaro
que tens dentro de ti,
vê a cera derretida
no pó da frustração,
do rasto sem sentido.
Ouço
respiro fundo
e persisto.
Persisto, porque acredito
que o terreno do homem
nos passos da vida,
não se limita ao espaço,
exíguo,
onde se move Sancho Pança,
nem se constrói
nos olhos do ódio
na baba hiante,
na raiva incontida
e no argênteo atropelo
da ambição desmedida.
Persisto.
Não sou herói
nem santo,
mas não desisto.
Não apago a minha voz
e persisto.
E com as mãos,
ambas,
moldo o barro
das pegadas
que deixo marcadas
no chão do caminho.
E nas palavras
que lavro,
nas linhas que escrevo,
deixo o eco e a voz
deste meu canto.
In. “O Percurso Interior das Palavras” – pp. 13 e 14
Poemas de Rogélio Mena Gomes
Ilustração de Susana Veiga Branco
*** *** ***
(Livro interessantíssimo: um Poema – uma Ilustração ou uma Ilustração – um Poema?!)
Revejo-me bastante neste Poema que apresentei supra.
Parabéns, Rogélio. Parabéns, Susana Veiga Branco.
- (Apresentação do livro, amanhã, dia 26, Biblioteca de Alcântara – Lisboa – Portugal.)