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Apeadeiro da Mata

Apeadeiro da Mata

07
Out24

Notas sobre o casamento na Aldeia da Mata (IV)

Francisco Carita Mata

TRABALHOS DO INSTITUTO DE ANTROPOLOGIA

«DR. MENDES CORRÊA»

FACULDADE DE CIÊNCIAS DO PORTO

Director – Prof. Doutor A. Rozeira

Nº 10 

Notas sobre o casamento na Aldeia da Mata 

Por

Agostinho F. Isidoro 

PORTO

1971

*******

«Notas sobre o casamento na Aldeia da Mata»

(I ...)

(II ...)

(III ...)

« À noite, pelas 23 horas, o noivo e os seus convidados vão em cortejo buscar a noiva a casa dos pais. A seguir todos os convidados acompanham os noivos a casa deles.

De madrugada, alguns convidados, especialmente os mais jovens, colocados em frente à casa dos noivos, fazem o descante, que consiste no cântico plangente de várias quadras alusivas aos noivos, após o qual lhes servem bolos e bebidas.

A nós disseram-nos as seguintes:

O noivo mais a noiva,

São dois raminhos de enleio!

A mulher que aí tens,

É um vaso do asseio.

 

O noivo mais a noiva,

São dois ramos de salsa crua!

Debaixo da vossa cama,

Põe-s’o sol e nasce a lua.

 

O noivo mais a noiva,

São raminhos da Primavera!

Levanta-te e abre a porta,

Qu’estou à tua espera.

 

O noivo mais a noiva,

São dois raminhos floridos!

Pelo vinho e pelos bolos,

Ficamos agradecidos.

 

O noivo mais a noiva,

Na vossa cama deitados,

Pelos bolos e pelo vinho,

Ficamos obrigados.

 

Desde menino que, na Aldeia da Mata, minha terra natal, tenho assistido e comparticipado em muitos casamentos.

Pode afirmar-se que estes se têm mantido segundo as normas descritas nesta nota.

 

Instituto de Antropologia «Dr. Mendes Corrêa»

Maio de 1971»

*******

«Notas do Autor:

(1)  Sopa de pão feita com sangue e fígado de ovelha cozidos, a que juntam cominhos, etc.

(2) Carne de ovelha ou de cabra, cozida aos bocados, designados depois de cozidos por presas, com molho, etc.

(3) Agostinho Isidoro, O Centro Oleiro da Flor de Rosa (Concelho do Crato – Alto Alentejo), in «Trabalhos de Antropologia e Etnologia», vol. XIX, fasc. 2, Porto, pags. 145 a 168. 5 figs. »

 

06
Out24

Notas sobre o casamento na Aldeia da Mata (III)

Francisco Carita Mata

TRABALHOS DO INSTITUTO DE ANTROPOLOGIA

«DR. MENDES CORRÊA»

FACULDADE DE CIÊNCIAS DO PORTO

Director – Prof. Doutor A. Rozeira

Nº 10

Notas sobre o casamento na Aldeia da Mata

Por

Agostinho F. Isidoro 

PORTO

1971

( ...   ...   ... )

(... ...  ...)

«...A voda ou função, designações que se dão ali à festa do casamento, tem normalmente a duração de dois dias e um quartel: tarde de sábado, todo o domingo e toda a segunda-feira seguinte.

Esta festa é realizada pelos pais dos noivos separadamente uns dos outros, isto é, os pais do noivo realizam-na em sua casa e os da noiva na sua casa também.

O dia da cerimónia religiosa ou civil é geralmente o domingo. No sábado de tarde e no domingo os noivos comem ainda na casa dos pais. Na segunda-feira o pequeno almoço é-lhes levado a casa deles da casa dos pais dele ou dela. As refeições seguintes, nesta primeira semana, são-lhes oferecidas, ora na casa dos pais do noivo, ora na casa dos pais da noiva. Por isso diz-se ali que na semana a seguir ao casamento os noivos andam ainda a comer da voda.

Durante os dias da voda, as refeições, que são abundantíssimas, são servidas, separadamente nas casas dos pais dos noivos.

Os pais dos noivos chegam a matar uma dúzia de cabeças de gado (ovelhas ou badanas e cabras) (fig.1) e vários galináceos.

Nestas funções não falta o arroz de maranhos (arroz cozido com pequenas porções de intestino delgado do gado abatido), as sopas de sarapatel (1), o afogado (2), o cozido à portuguesa, os bolos, o arroz doce, o vinho em abundância, etc..

Estas iguarias são cozinhadas em grandes panelas e caçolas de barro, compradas a oleiros e Flor da Rosa, que no dizer do povo, lhes conferem um sabor especial (3).

Chegada a hora da cerimónia nupcial, na tarde de domingo, os noivos, preparados em casa dos seus pais, despedem-se deles pedindo-lhes a bênção e abraçam a família mais chegada. São momentos de choro para todos, por se recear da sorte dos nubentes.

Agora o noivo, acompanhado dos seus convidados (fig. 2), deixa a casa paterna e vai a pé buscar a noiva, que se encontra em casa dos pais dela. Aqui forma-se o cortejo nupcial. A noiva vai à frente vestida a rigor, ladeada pelos seus padrinhos, todos seguidos pelos convidados (fig. 3). Os espectadores, entre os quais há amigos dos noivos, mas que não foram convidados e muitos curiosos (fig. 6), formam grupos ao longo do trajecto do cortejo nupcial.

Terminada a cerimónia, os noivos, ao lado um do outro e com o acompanhamento atrás, regressam a casa dos pais da noiva (fig. 4), onde esta ficará até à noite, à espera que o noivo e os convidados a vão buscar.

Aqui a madrinha da noiva, colocada na janela da casa ou na soleira da porta, atira aos convidados e a pessoas estranhas ao casamento, que sempre se juntam nessa ocasião na rua em frente à casa, amêndoas, rebuçados, nozes e amendoins (ervelhanas). Isto dá origem a grande rebuliço e até a gritaria, pois todos querem apanhar à uma o que a madrinha lhes atira. É altura para encontrões, quedas e às vezes atritos pessoais.

A seguir é servido um copioso copo de água a todos os convidados, constituído especialmente por muita variedade de bolos e diversas bebidas, após o qual o noivo com os seus padrinhos e todos os convidados se dirige para casa dos seus pais (fig. 5), onde a sua madrinha atira também amêndoas, rebuçados, etc.

Aqui é servido outro copo de água a todos os convidados, semelhante ao anterior.

O resto da tarde de domingo é destinada a divertimentos. Uns dão voltas às ruas em grupos, outros, os mais jovens, realizam balhos, que se prolongam pela noite adiante. (...)»

 

05
Out24

Notas sobre o casamento na Aldeia da Mata (I)

Francisco Carita Mata

TRABALHOS DO INSTITUTO DE ANTROPOLOGIA

«DR. MENDES CORRÊA»

FACULDADE DE CIÊNCIAS DO PORTO

Director – Prof. Doutor A. Rozeira

Nº 10 

Notas sobre o casamento na Aldeia da Mata 

Por

Agostinho F. Isidoro 

PORTO

1971

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«Notas sobre o casamento na Aldeia da Mata»

«Aldeia da Mata é uma das mais importantes freguesias do concelho do Crato, Alto Alentejo.

Fica a oeste, e a 8 Km, da vila do Crato, numa altitude de uns 219 m, assente na cumiada dum monte com a orientação norte-sul.

Em sua volta os terrenos são pobres com abundantes afloramentos graníticos.

O censo de 1960 dá-lhe uma população de 1172 almas e 411 fogos.

Nestes últimos anos a população tem diminuído muito por causa do êxodo de muitos dos seus habitantes, como tem acontecido em muitas outras terras do nosso país.

Uns, emigram definitivamente, outros, fazem temporadas de trabalho na Beira-Baixa e Ribatejo, na época das lenhas, nas vindimas e na apanha da azeitona.

Aldeia da Mata perdeu já muitos dos seus costumes antigos e aspectos da sua vida comunitária, como os fornos de cozer o pão, a adua, etc., por causa das fáceis comunicações ferroviárias e rodoviárias, com outras povoações e vilas.

No entanto conserva ainda no casamento dos seus filhos muito do ritual do passado.

Nesta aldeia, quando nasce uma filha a um casal, é preocupação da mãe, começar a tratar do enxoval do seu casamento, cujas peças depois de compradas, vão sendo colocadas numa arca.

As peças são as mais variadas, desde roupas da cama, designadas por fato, às louças de porcelana e de esmalte, até às de ouro tais como: anéis, fio de ouro, grilhão e cordão.

Muitas destas peças são compradas nas feiras realizadas anualmente em Flor da Rosa, Crato, Chança, Ponte do Sor, Nisa, Portalegre, etc..

Em Aldeia da Mata, com raras excepções, os casamentos são realizados entre os seus habitantes. Mesmo aqueles que na idade do namoro a vida leva para outras regiões, não partem sem deixar ali a sua conversada.

Depois do namoro, que é mais ou menos longo, e que durante muito tempo era consentido em dias determinados e sob os olhares da mãe, os pais do rapaz vão a casa dos pais da rapariga e pedem a filha para o filho.

Geralmente os casamentos ali são realizados com o agrado dos pais.»

(II …  ...)      (III ...  ...  ...)  (IV ... ... ... ...»

 

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