Notas sobre o casamento na Aldeia da Mata (IV)
TRABALHOS DO INSTITUTO DE ANTROPOLOGIA
«DR. MENDES CORRÊA»
FACULDADE DE CIÊNCIAS DO PORTO
Director – Prof. Doutor A. Rozeira
Nº 10
Notas sobre o casamento na Aldeia da Mata
Por
Agostinho F. Isidoro
PORTO
1971
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«Notas sobre o casamento na Aldeia da Mata»
« À noite, pelas 23 horas, o noivo e os seus convidados vão em cortejo buscar a noiva a casa dos pais. A seguir todos os convidados acompanham os noivos a casa deles.
De madrugada, alguns convidados, especialmente os mais jovens, colocados em frente à casa dos noivos, fazem o descante, que consiste no cântico plangente de várias quadras alusivas aos noivos, após o qual lhes servem bolos e bebidas.
A nós disseram-nos as seguintes:
O noivo mais a noiva,
São dois raminhos de enleio!
A mulher que aí tens,
É um vaso do asseio.
O noivo mais a noiva,
São dois ramos de salsa crua!
Debaixo da vossa cama,
Põe-s’o sol e nasce a lua.
O noivo mais a noiva,
São raminhos da Primavera!
Levanta-te e abre a porta,
Qu’estou à tua espera.
O noivo mais a noiva,
São dois raminhos floridos!
Pelo vinho e pelos bolos,
Ficamos agradecidos.
O noivo mais a noiva,
Na vossa cama deitados,
Pelos bolos e pelo vinho,
Ficamos obrigados.
Desde menino que, na Aldeia da Mata, minha terra natal, tenho assistido e comparticipado em muitos casamentos.
Pode afirmar-se que estes se têm mantido segundo as normas descritas nesta nota.
Instituto de Antropologia «Dr. Mendes Corrêa»
Maio de 1971»
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«Notas do Autor:
(1) Sopa de pão feita com sangue e fígado de ovelha cozidos, a que juntam cominhos, etc.
(2) Carne de ovelha ou de cabra, cozida aos bocados, designados depois de cozidos por presas, com molho, etc.
(3) Agostinho Isidoro, O Centro Oleiro da Flor de Rosa (Concelho do Crato – Alto Alentejo), in «Trabalhos de Antropologia e Etnologia», vol. XIX, fasc. 2, Porto, pags. 145 a 168. 5 figs. »