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Apeadeiro da Mata

Apeadeiro da Mata

22
Mar23

«A Casa do Porcozunho» - Poesia de Sr. João.

Francisco Carita Mata

Casa Porcozunho. Foto original. 15.02.23

(Poema de João Guerreiro da Purificação - Aldeia da Mata)

Casa Porcozunho. Foto original. 15.02.23 

«Já vai sendo há muito que eu reparo

Na fachada desta casa abandonada

Que o destino a levou ao desamparo

E à solidão triste a que está votada.

 

De porta escancarada, a convidar,

Humildemente, a dizer que tem janela

Mas que há muito não vê entrar

Ninguém curioso para estar a ela.

 

Já não tem lá dentro braços abertos

Esperando com amor outros cansados

Nem carinhos nem uns sorrisos certos

Por criança alegremente dados.

 

Que sonhos lindos não teria havido

E segredos à lareira já esquecida

Oh! casa o que tu terás escondido

Que só já ao silêncio dás guarida!

 

Com a chaminé sem fumo ao céu erguida

Sofrendo o seu tormento em agonia

Esta casa que está esquecida

Já foi lar e guardou amor um dia.

 

Se lágrimas lá dentro tu tiveste

Foram de prazeres e alegrias

Hoje, choras tu, casa, que não deste

Largas loucas ao mundo das fantasias.»

Casa Porcozunho. Foto original. 15.02.23

*******

In. “ANTA” Poesias - João Guerreiro da Purificação – Aldeia da Mata – 1992 – Edição de Autor – Gráfica Almondina, Torres Novas. (pag. 93)

*******

Casa do Porcozunho. Foto original. 15.02.23.

O Sr. João Guerreiro da Purificação é um Poeta de excelência. Figura em diversos postais nos blogues. Com textos em poesia e em prosa.

Há algum tempo que ando para publicar este Poema, ilustrado com fotos da Casa. Em Fevereiro, quinze, na caminhada que fiz com Amigo Marco, tive oportunidade de fotografar a Casa e vários excertos da mesma. Muita curiosidade suscita esta obra arquitetónica. Desde logo o facto de ser colorida, rebocada com requinte e estética na frontaria. A localização, guardando a horta. A própria horta. Haverei de fazer um postal sobre a mesma. Os efeitos das cheias de Dezembro de 2022, principalmente a do dia vinte.

Casa Porcozunho. Foto original. 15.02.23.

Caro/a Leitor/a, aprecie o lindo Poema, visualize as fotos, SFF.

Casa Porcozunho. Foto original. 15.02.23.

Bons passeios primaveris, com saúde!

 

21
Mar22

Poema de J. G. P. em "Dia Mundial da Poesia"

Francisco Carita Mata

«Fonte do Salto»

(Poesia de João Guerreiro da Purificação)

 

«Aqui estou,

Com montes de saudades,

De ti,

E das pedras

Que aqui piso com amor,

E daquelas

Que não posso lá chegar

Para beijar.

Aqui estou,

Para beber,

Só beber,

E falar contigo

Até querer,

E ficar

Como se fosse desejado.

Ali está a velha ponte

Com água suja a passar,

Fedorenta e sem vida

Ao pé da tua tão pura.

Ó fonte do salto,

Minha amiga

Das horas más,

Minha esperança.

 

Aqui estou

Não em pensamento

Nem empurrado pelo vento,

Aqui estou

Com o que resta de mim!...

Ah!… Fonte do salto,

Como foi ,

Este caminho

Que contigo no pensamento!...

Percorri,

Mas se a chorar,

Prometi voltar

Para beber da tua água,

Aqui estou,

Bebendo, bebendo

A água pura que vem de ti

Como jurei,

Lá muito longe,

Que viria beber

Da tua bica,

Aqui.»

  

In. “ANTA” Poesias - João Guerreiro da Purificação – Aldeia da Mata – 1992 – Edição de Autor – Gráfica Almondina, Torres Novas. (pag. 92)

******* 

Há algum tempo que não publico textos em “Apeadeiro da Mata”.

Hoje, dia 21 de Março de 2022, “Dia Mundial da Poesia”, um Poema lindíssimo do Sr. João. Sobre a “Fonte do Salto”!

(O poema terá sido escrito em época em que a “Ribeira de Cujancas” corria de água suja, devido ao lagar existente junto a Vale do Peso. Atualmente esse lagar já não funciona, há alguns anos, e a água corre mais limpa.)

(Continuamos na divulgação de “Património Imaterial de Aldeia da Mata”.)

 

Ontem, em “Aquém-Tejo”, também houve direito a Poesia: “Primavera e Paz”!

Ligação para outros poemas sobre Fontes. E também com Fotos:

Fonte-de-alter-poesia

Fonte-do-boneco-poesia

Fonte-do-salto-poesia 

Votos de Saúde e de Paz!

 

08
Mar22

«O Ti Domingos Cego» - Aldeia da Mata

Francisco Carita Mata

Um parêntesis na narrativa sobre J. P. Dias… ou talvez não!

 

«Das informações que tive, o Ti Domingos Cego, aos três meses de idade ainda via. Era filho de famílias pobres e, como tal, cedo começou a estender a mão à caridade para a sua sobrevivência, para o que muito lhe valeu a sua grande orientação quando ia pedir às povoações mais próximas. Para justificar o merecimento que as fatias de pão tinham para si, agradecia com umas modas que tocava na sua guitarra.

Eu ainda era miúdo, mas lembro-me de andar atrás dele a pedir que me desse uma corda partida da guitarra, mas já não sei se fui atendido. As pessoas que o conheciam bem dizem que ele tinha muito tacto nas ruas da nossa terra quando pedia porque ao chegar a qualquer casa chamava pelo nome da pessoa.

Faleceu na estrada que nos liga com o Crato, na recta do Cardoso, na vala do lado do Couto Vila Glória, alguns metros mais a nascente da entrada para esta propriedade. Foi no Inverno, de noite e chovia.

Contam que nesse tempo havia grandes bailharadas no Terreiro, e o Ti Domingos deixou fama de grande animador desses bailes, a troco de uns tostões para o caldo.

Depois de lhe darem uma cadeira ao jeito dele e de estar bem acomodado dizia aos rapazes: - Agora vamos a elas, deixem-nas comigo, ó rapaziada para ver quem se nega…

E foi assim o Ti Domingos, por ele os bailes nunca acabavam.»

 

In. “A Nossa Terra” – Purificação, João Guerreiro da – Há Cultura / Associação de Amizade à Infância e Terceira Idade de Aldeia da Mata, 2000. pág.283

 

Esta é a breve história, contada pelo Sr. João, no livro citado, verdadeira “Enciclopédia da Aldeia do séc. XX”, sobre este personagem peculiar de Aldeia da Mata, que acompanhava o Srº Joaquim Pedro “Cego” e a Sr.ª Conceição “Cega” à Horta do Carrasqueiro.

Ele ainda era vivo na década de trinta, quando o Srº João Guerreiro da Purificação era miúdo.

Tal como a Srª Conceição “Cega” também ainda era viva.

O Sr. Joaquim Pedro “Cego” já era falecido.

Relativamente a este personagem principal desta narrativa, além de não saber quando nasceu, também não sei se terá falecido na 2ª década do séc. XX (1911 – 1920), se já terceira (1921 – 1930)! (A “Casa” tem registado 1911! Logo, era vivo no dealbar dessa década.)

Também não sei quando terá cegado. Todavia, estando na Ermida registado 1901, terá sido em data anterior.

Terei de saber se na Horta de Sampaio há algum registo, porque foi na construção do monte que a ocorrência se deu.

Há que pesquisar!

(Interessante também registar que ocorrências importantes na Vida deste Sr. se processaram no dealbar da Monarquia para a República!)

 

Saúde! E muito Obrigado por seguir estas histórias. Que haja Paz!

E Feliz "Dia da Mulher"!

 

01
Mar22

Quem foi J. P. Dias?!

Francisco Carita Mata

Joaquim Pedro Dias, também conhecido por Srº Joaquim Pedro “Cego”!

 

Volto a socorrer-me de “A Nossa Terra” – Purificação, João Guerreiro da – Há Cultura / Associação de Amizade à Infância e Terceira Idade de Aldeia da Mata, 2000. pág.189.

 

«Capela de S. Pedro»

«O Senhor Joaquim Pedro Dias mandou reconstruir esta capela que estava em ruínas. Conta o povo que esta obra foi por uma promessa que fez se pudesse ficar a dirigir a sua casa agrícola depois de ter cegado, motivado por um tiro de pedreira, quando estava numa pedreira em Sampaio junto dos cabouqueiros a ver partir a pedra para fazer o Monte deste Couto. Algumas propriedades deste senhor foram: Murtal, Chamorro, Cujancas, Couto de Sampaio e Mato de Alter.»

 

À data, este senhor seria a pessoa mais rica da Aldeia. Era também conhecido por Joaquim Pedro “Cego”, em resultado do acidente anteriormente referido.

Consultando ainda o livro supracitado, pág. 133, uma verdadeira “Enciclopédia sobre Aldeia da Mata do século XX”, deduz-se que a respetiva riqueza patrimonial resultou de heranças. A mãe deste senhor … «casou quatro vezes e todos os maridos possuíam fortuna, e só no quarto casamento nasceu um filho, o Senhor Joaquim Pedro Cego, como era conhecido, e a Senhora D. Francisca Valério.»

 

Segundo dados documentais registados em pedra, pelo menos em três locais de Aldeia da Mata, viveu no século XIX e primeiras décadas do séc. XX. (Não sei exatamente data de nascimento nem de falecimento.) Os locais que conheço, em que este senhor deixou marca identitária, para além da referia Ermida, são duas casas na Rua Larga.

De certo modo, constatando este hábito de J. P. Dias assinalar e “assinar” as suas Obras, certamente haverá registos semelhantes noutras propriedades que lhe pertenceram. E surpreende-me que na Fonte do Salto, para cujo arranjo também contribuiu, não se observar nenhuma “assinatura”!

No domínio das curiosidades sobre o Sr. Joaquim Pedro “Cego” ainda relatarei mais algumas ocorrências.

 

E, por vezes, nem de propósito…

No pretérito dia dois de Fevereiro, “Dia da Senhora das Candeias”, a meio da tarde, andava eu num dos meus “escritórios” no “entroncamento” da “Azinhaga do Poço dos Cães” com a da “Fonte das Pulhas”. Passou o Sr. José da Costa Domingos. (Matense, 84 anos, 1937.)

Proseámos um pouco.

Lembra-se da cheia de 1959, trabalhava também nas pedreiras graníticas, dos “Cortessais” e da Tapada da Ribeira. Também se recorda da Ponte da Ribeira do Salto, antes de esta ter sido parcialmente destruída por essa enchente. Era em lajedo e tinha uns parapeitos baixos de pedra.

Sobre a “Ermida de S. Pedro” lembra-se que o pai lhe contara que o Srº Joaquim Pedro “Cego” acordara com o Srº Gouveia que mandaria fazer a Ermida, caso este senhor cedesse terreno do seu quintal, espaço das atuais “Quintas de Cima e de Baixo”, para fazer a atualmente designada “Estrada Nova”. Até essa data (1900/1901?) a entrada para Aldeia, provindo do Norte, era pela Rua de São Pedro, que ainda hoje é muito inclinada e que não era calcetada. Dificultava muito o “trânsito” da época, especialmente carros de bois muito carregados e quando era necessário puxar a máquina da debulha que ia para a eira da “Soalheira”.

Ambas as Obras estão feitas.

(Haverá documentos escritos sobre tal?!)

Face à motivação transcrita no livro citado, pode parecer haver divergência, mas talvez seja apenas aparente. Provavelmente ambos os motivos têm consistência. Um mais de ordem espiritual, outro mais prático. Ambos condizentes ao mesmo objetivo.

 

(E sobre J. P. Dias – Joaquim Pedro Dias – Srº Joaquim Pedro “Cego”, ainda contaremos mais algumas narrativas.)

 

16
Jan22

Fonte de Alter: Poesia de J. G. da Purificação

Francisco Carita Mata

Quadras do Sr. João: João Guerreiro da Purificação

Fonte de Alter I. Foto Original. 2021.12.01.jpg

«Fonte de Alter»

Fonte de Alter II. Foto Original. 2021.12.01.jpg

«Se vou e venho da estação

Ou andar por ali perto

Bebo à bica com a mão

No seu correr sempre certo.

 

Foi de mergulho e servia

Pois muita sede tapou

Já lá vai longe esse dia

Hoje só a saudade ficou.

 

Não é a fonte mais querida

Das fontes que nos dão de beber

Mas foi há muito concorrida

Quando de mergulho podem crer.

 

Não sei qual foi a intenção

Em ser a FONTE DE ALTER

Seria por ALTER DO CHÃO?

Ou por outra coisa qualquer?

 

Não interessa o nome que tem

Para a ALDEIA tanto faz

Mas o bem que a fazer vem

Desde agora para trás.

 

Se à cabeça da mulher

O asado já não se vê

Não deixa de ser FONTE D’ALTER

Com água à nossa mercê.»

In. “ANTA” Poesias - João Guerreiro da Purificação – Aldeia da Mata – 1992 – Edição de Autor – Gráfica Almondina, Torres Novas. (pag. 60)

Caminho do Apeadeiro. Foto Original. 2021.12.01.jpg

Esta Fonte, no caminho do Apeadeiro, junto à estrada para Alter do Chão, quase no respetivo concelho, que o limite da freguesia de Aldeia da Mata e concelho do Crato fica muito perto, a Sul, na direção da referida Vila.

Na divulgação do Património de Aldeia da Mata continuamos com as Fontes, especificamente a “Fonte de Alter”, já apresentada no blogue.

Mas o realce é a Poesia do “Sr. João” – João Guerreiro da Purificação, sobre esta Fonte em particular, como já aconteceu relativamente a outras Fontes públicas. Divulgamos assim também “Património Imaterial de Aldeia da Mata”!

Fonte Alter V. Foto Original. 2021.12.01.jpg

Caro/a Leitor/a, espero que tenha gostado. Obrigado.

 

15
Jan22

Fonte do Boneco: Poesia de J. G. da Purificação

Francisco Carita Mata

Quadras do Sr. João: João Guerreiro da Purificação 

Fonte do Boneco I Foto original. 2021.12.01.jpg

«Fonte do Boneco»

 

«A nossa Fonte do Boneco

A nenhuma se pode igualar.

Não tem fama a fazer eco

Para dela se ouvir falar.

 

Se não é muito procurada

E o povo dela se esquece

Ela no Verão não corre nada

Quando a água mais apetece.

 

Nome engraçado ela tem

Para não nos ser esquecida

Se não fosse a rir alguém

Brincava com ela toda a vida.

 

Tem um feitio diferente

De todas as que há por aí

Por isso o diz muita gente

Fonte tão linda está ali.

 

Mesmo correndo se espera

Nesta fonte quando corre

Já vem assim de larga era

Até ao Verão quando morre.

 

Fica perto do povoado

Sem safras nem má caminho

Por isto ao povo tem dado

Amor e muito carinho.»

Fonte do Boneco III. Foto original. 2021.12.01.jpg

 In. “ANTA” Poesias - João Guerreiro da Purificação – Aldeia da Mata – 1992 – Edição de Autor – Gráfica Almondina, Torres Novas. (pag. 59)

Placa de Caminho para Fonte. Foto Original. 2021.07.09.jpg

Continuamos com as Fontes públicas de Aldeia, aquelas aonde habitualmente os habitantes iam buscar água para as necessidades básicas: para beber, para confecionar alimentos, para higiene. Antes de haver água canalizada ao domicílio. Ir buscar água às fontes era uma tarefa quase exclusiva do sexo feminino.

E também onde levavam os animais a beber. Esta era uma tarefa predominantemente masculina.

Bebedouro do gado. Foto Original. 2021.12.01.jpg

Esta fonte, atualmente, desde meados de 2021, está incluída nos Roteiros de Percursos Pedestres. Num “Percurso Histórico”. Escreverei sobre o tema. Muita Saúde e muito Obrigado.

Caro/a Leitor/a, espero que tenha gostado do passeio, cujo caminho a foto seguinte documenta.

E das bonitas e sugestivas Quadras do "Srº João", formando a linda Poesia transcrita, com a devida vénia e reconhecimento. Faz parte do "Património Imaterial" de Aldeia da Mata.

Renovados Agradecimentos!

14
Jan22

Fonte do Salto: Poesia de J. G. da Purificação

Francisco Carita Mata

Quadras do Sr. João: João Guerreiro da Purificação 

Fonte do Salto e penedos. Foto Original. 2021.09.05.jpg

«Fonte do Salto»

Fonte do Salto. Frontaria. Foto Original. 2021.09.05.jpg

«Ó velha fonte do Salto,

Quem não te esquece sou eu

Nem as pedras lá do alto

Parecendo tocar o céu.

 

Ó linda fonte velhinha,

Com nascente numa frágua

Que tens toda a avezinha

Gostando da tua água.

 

Tu és rainha, como fonte,

Deixa-me dizer-te baixinho

Não ouça a fonte do Monte

A das Pulhas e Salgueirinho.

 

Já não ouves as crianças,

Brincando despreocupadas,

Nem o roçar das suas tranças

Nas tuas bicas douradas.

 

Junto a ti algumas asneiras

Eram ditas com doçura

Por lindas moças solteiras

Sorvendo a água pura.

 

Nem o eco perto ficou

Das cantigas doutra era

Toda a alegria acabou

E na Fonte havia espera.

 

Eu bem sinto o teu sofrer,

Assim como o rosmaninho,

Só quem pára para beber

É quem passa de caminho.

 

Só não muda a tua água

Saída das tuas bicas

Vem o tempo cura a mágoa

Tudo passa e tu ficas.

 

Tens a ribeira à tua frente

Correndo ao seu destino.

Ó Salto, fica contente

Não te julgues sozinho.

 

Estás aonde estamos

Esta verdade é certa

De ti todos te lembramos

Quando a sede aperta.»

 

In. “ANTA” Poesias - João Guerreiro da Purificação – Aldeia da Mata – 1992 – Edição de Autor – Gráfica Almondina, Torres Novas. (pag.s 16 e 17)

Fonte do Salto. Perspetiva de SW. Foto Original. 2021.09.05.jpg

Com este Postal Nº 39, em “Apeadeiro”, continuamos na divulgação do Património Material e Imaterial de Aldeia da Mata.

Retornamos às Fontes e, em Poesia! Lindas e sugestivas Quadras do Sr. João.

(Não sei quando esta Poesia terá sido escrita. Nela, o Autor lamenta, com nostalgia, o facto de a Fonte já não ser procurada para buscar água. Já havia distribuição da dita ao domicílio. Facto ocorrido na segunda metade da década de sessenta. O livro foi publicado em 1992. A criação das quadras terá ocorrido entre estas datas, suponho eu, claro!)

Continuaremos em futuros postais com esta temática das Fontes.

Caro/a Leitor/a: Muito Obrigado pela sua atenção. Votos de muita Saúde.

 

15
Dez21

A Fonte D’Ordem!

Francisco Carita Mata

Um Testemunho do Passado! A “Caraça” da Fonte da Ordem!

Caraça fonte da ordem. Foto original. 2021.02.01.jpg

Um relato de um motim e duas quadras alusivas.

Só hoje consigo voltar às Fontes. E, especificamente, à Fonte D’Ordem, a partir de sugestão de “Aquém – Tejo”! Outros afazeres…

A “Fonte D’Ordem”, da Ordem, frise-se, Ordem Militar de Malta, será das fontes mais antigas da Aldeia. Era uma fonte de mergulho, de que me lembro muito bem. Foi remodelada, isto é, fechada, certamente na época em que arranjaram também a “Fonte das Pulhas”, cuja data está registada: 1989. Deduzo eu, que não confirmei, indaguei ou pesquisei especificamente.

No referente à Fonte das Pulhas, de que me lembro, também muito bem, ser de mergulho, penso que agiram corretamente. A água é boa, é relativamente abundante. Algumas pessoas vão lá buscar água. Nós, também. Assim é bem aproveitada. A ser de mergulho, seria menos apetecível de recolher o precioso líquido.

Fonte da ordem. Foto original. 2021.07.09. jpg

Quanto à Fonte D’Ordem, penso que teria ficado melhor como estava, testemunhando um modelo de fonte antiga. Desde que me lembro, anos sessenta, a respetiva água era considerada imprópria para consumo. Todavia está como documentam as fotos e não há nada a fazer. Acontece nas mais variadas situações, lugares e tempos, efetuarem-se obras nos mais diversos testemunhos do passado, alterando-os, sem que daí advenham especiais benefícios. (Tenho dito!)

Fonte da Ordem. Foto original. 2021.12.01.jpg

Essa categorização de “imprópria para consumo” é anterior aos anos sessenta. Não sei precisar data exata.

Essa ação desencadeou, nomeadamente, um motim sobre que João Guerreiro da Purificação, no seu livro póstumo, “a nossa terra”, Edição “Há Cultura”, 2000, pag. 148, relata o seguinte: «…Nessa época, a Fonte d'Ordem era muito procurada pelo povo, e como nas nossas fontes se sentia uma enorme falta de água, o povo amotinou-se quando as autoridades a mandaram entupir a pretexto de ser imprópria para consumo, logo numa altura de tanta escassez. Só que o povo não lhes deu ouvidos, principalmente as mulheres, que se encheram de coragem e desentupiram a fonte, para as continuar servindo com a sua água. (…)

Na ocasião do motim, o Senhor Joaquim Paulo Sequeira, inspirado com o sucedido, fez umas quadras, das quais só consegui saber as duas que se seguem.

Eu cá sou a Fonte d’Ordem

Meu nome não é de negar

Tanto ao rico como ao pobre

Eu ajudei a criar.

 

Foi enorme ingratidão

Mataram-me sem razão

Pois quando me pediam água

Eu jamais disse não.»

Carranca da Fonte da Ordem. Foto Original. 2021.12.01.jpg

E, por agora, me fico por aqui. Que ainda voltarei às Fontes. E, em Poesia!

Saúde! E, Obrigado!

 

 

11
Nov21

"Vamos dar de beber… à Dor"?

Francisco Carita Mata

Em “Dia de São Martinho” é o que apetece, não?!

Mas não. Vamos beber, sim, mas ainda na Fonte da Bica e num texto original.

Fonte da Bica. Geral. 2021.09.01.jpg

A Fonte da Bica: Descrição de J. Guerreiro da Purificação

«A Fonte da Bica»

Fonte, aspeto central. Foto original. 2021.09.01.jpg

«As nascentes vêm de duas minas do terreno do Senhor António Marques, ou seja, do chão que fica em frente quando se sobe a azinhaga onde está a arca, a pouca distância desta. Estas minas foram abertas pelo Senhor Joaquim Paté Caldeira (o Ti Torrado).

Arca da Fonte. Foto original. 2021.07.09.jpg

A arca desta fonte foi feita depois de ter havido um desastre na primeira. Um caso estranho e que passo a contar. A primeira arca da fonte estava construída no meio da azinhaga, um pouco mais acima da direcção da actual, mas soterrada para o trânsito ficar livre. Mas um dia aconteceu que uma vaca do Senhor José Durão, o antigo dono do terreno onde estão as minas, meteu as patas por entre os cascões de pedra que tapavam a arca. Depois, só com a ajuda de vários homens conseguiram tirar de lá o animal.

Azinhaga acima da Arca da Fonte. Foto original. 2021.07.09.jpg

A Fonte da Bica, é das fontes da terra, a mais procurada pelo nosso povo. Há uns anos, antes de haver água canalizada e a Aldeia com mais povoação, a água desta fonte no Verão era todos os anos muito pouca, o que originava a tão maçadora “espera”.»

A Bica. Foto original. 2021.09.01.jpg

In. “A Nossa Terra” – Purificação, João Guerreiro da – Há Cultura / Associação de Amizade à Infância e Terceira Idade de Aldeia da Mata, 2000. Pag.s 146, 147.

(João Guerreiro da Purificação – Aldeia da Mata – 10/07/1927 – 17/12/1997.)

Fonte da Bica. Geral. Foto Original. 2021.07.09.jpg

Continuo a divulgar as “Fontes de Aldeia”, ilustrando os postais com imagens globais ou parcelares das mesmas.

Divulgo igualmente textos do livro supracitado, de Autoria do “Senhor João”. Assim vou dando a conhecer parte do Património material e imaterial, referente a Aldeia da Mata. Estes textos contêm referências à localidade, reportando-se a um tempo muito diverso daquele que conhecemos hoje.

O “trânsito” referido reporta-se a carros movidos por tração animal: muares: machos, mulas, burros, burras e vacas. O episódio referenciado menciona uma situação dessas. Situar-se-á aí pelos anos trinta, quarenta, do séc. XX. Talvez! Até finais dos anos setenta ainda havia muitos carros puxados por tração animal. Os carros motorizados, em Portugal, só se generalizaram a partir da segunda metade desta década, mercê da melhoria generalizada das condições de vida, especialmente das classes trabalhadoras.

Outro termo citado, a “espera”. Refere-se ao facto de, no Verão, as nascentes das fontes serem mais fracas, pelo que corria menos água nas bicas. Como a procura era bastante, dado não haver água canalizada, as pessoas que iam às fontes, quase exclusivamente as mulheres, ficavam esperando, na respetiva “vez”, isto é, ordem de chegada, até que a água voltasse a correr na bica. Para encherem os cântaros, os asados, as infusas.

Lembro-me da instalação da água canalizada na Aldeia e da abertura de canos por todas as ruas. Corria o ano de 1966! A instalação dos esgotos ocorreu bem depois. Já nos finais de setenta ou inícios de oitenta. (Não me lembro com precisão.)

Mas não pense que estas situações de carências de bens e serviços que hoje consideramos básicos eram especificas das Aldeias. Eram comuns nas Cidades também. Atingiam proporções e condições ainda bem piores do que ocorria no Interior. Basta lembrar os “bairros de lata”, que enxameavam toda a Grande Lisboa!

Nos terrenos do supermoderno “Parque das Nações” existia a célebre “Lixeira de Beirolas”. Frisar que foi a “Expo 98”, que despoletou a requalificação de todo aquele espaço.

Só para lembrar este Portugal, ainda recente, que fomos!

Muito Obrigado e Muita Saúde!

 

10
Nov21

Fonte da Bica: Quadras de J. Guerreiro da Purificação

Francisco Carita Mata

Fonte da Bica. Estrutura base. Foto original. 2021.07.09.jpg

«Fonte da Bica»

 

«Com paciência de velhinha

A transparecer de contente

Vens com a água fresquinha

Matando a sede à gente.

 

És rainha dos segredos

Das fontes da nossa terra

Também tens fama de medos

De há muito a esta era.

 

Humilde fonte da bica

Cercada de olivais

Quem te esquece, a dever fica,

Quem não te esquece, dá ais.

 

Ninguém sabe agradecer

As muitas sedes que mataste

Quem sabe se alguém ao beber

Alguma vida salvaste.

 

Os filhos da nossa terra

Que longe ganham seu pão

Lembram-se bem como era

Beber água na mão.

 

É lindo e tem sentido

Esta maneira de beber

Mas a dor fica contigo

Se alguém te vai esquecer.

 

Se bebo a tua água

Renasce-me a minha vida

De contente volta a mágoa

Ao lembrar a despedida.

 

Tens o Ribeirinho, por namorado,

Que te beija a toda a hora

E lá em cima o povoado

Zelando-te pelo tempo fora.

 

Nas noites quentes de verão

Com rouxinóis a cantar

Enche-nos de alegria o coração

Beber da tua água ao luar.

 

A fama dos teus medos

Que há muito de ti vem

Já não seriam segredos

Se não os guardasses tão bem.»

 

In. “ANTA” - Poesias. Pag. 19 - De João Guerreiro da Purificação. Aldeia da Mata – 1992.

 

Fonte da Bica. Aspeto Geral. Foto Original. 2021.07.09.jpg

P.S. – Com este postal, continuo na divulgação de Património de Aldeia da Mata.

Material: as Fontes, neste caso, a da Bica.

Imaterial: Poesia, de João Guerreiro da Purificação.

Espero que tenha gostado, Caro/a Leitor/a.

 

 

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  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D