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Apeadeiro da Mata

Apeadeiro da Mata

06
Nov24

As Cheias das Ribeiras… e a "Tragédia de Valência” (I)!

Francisco Carita Mata

Hoje é daqueles dias em que não faltarão assuntos sobre que opinar.

Mas propus-me escrever algo sobre a “Tragédia de Valência”!

Bem sei que o assunto já vai estando esquecido – esse é o mal – que outros temas, mais mediáticos, surgiram nas agendas. (Mas eu não gosto, nem sei surfar!)

Sobre o que quero escrever, vou reportar-me, inicialmente, à minha Aldeia. Parafraseando o célebre “ditado”: “O Mundo é uma Aldeia e uma Aldeia é um Mundo”!

A minha Aldeia fica situada numa colina, altitude média 249 metros. Ponto mais alto, final da Rua do Saco: 250 m.

A norte da localidade, passa a célebre Ribeira de Cujancas – célebre, porque já escrevi sobre ela várias vezes. Ribeira que é Ribeiras. Porque tem muitos nomes/designações, quando passa junto da Localidade. Junto à Ponte e Ribeira das Pedras, a 200/300 metros da Aldeia, a respetiva cota será de 210/220 metros de altitude.

Esta “Ribeira” passa, simultaneamente, perto e longe da povoação.

Perto, porque se chega fácil e rapidamente à Ribeira das Pedras, para ver as cheias. Longe, porque, quando estas ocorrem, nunca a água chega ou chegará à Aldeia. Só se houver – algum dia – quem sabe(?!) um Dilúvio Universal!

Mas, as cheias acontecem!

A última ocorrida foi em Dezembro de 2022. Em vez de uma, foram duas: a 13 e a 20! Presenciei. Fotografei. Observei a força e o poder das águas. E documentei.

Mas antes houve outras. Pessoas sábias deixaram assinaladas as datas: em 1941 e em 1959. Talvez para lembrar e não esquecer! Desta última, lembro-me. Foi a que destruiu os muretes da ponte da Ribeira do Salto.

A Mãe também me falou que houve outra grande cheia, em Janeiro de 1975. Mas desta não me lembro. À data, não estava a viver na terra. Estava em Lisboa.

(Não sei se houve mais alguma grande cheia neste intervalo de 1975 a 2022.)

Interessante que, em Janeiro de 2022 – longe de imaginar o que aconteceria em Dezembro – não tenho esse poder de adivinhação – eu fora limpar a pedra granítica onde estas datas estão registadas. Para permitir a visualização desse esboço epigráfico. Testemunhar o Património Material e Imaterial da Aldeia, que é constituído de memórias e lembranças. E as cheias são uma delas.

Mas só se lembra das cheias na ribeira da sua aldeia?! Perguntar-me-á, o/a Caro/a Leitor/a.

Também me lembro de ouvir contar sobre as cheias de 67, lá para Lisboa. (Mas, nessa data, estava a milhas da cidade!)

E, regularmente, nas “Cheias do Ribatejo”, quando as havia! E nas cheias da Ribeira, no Porto! E, nas do Mondego, quando elas eram cíclicas…

E, de tantas outras, em tantos lados e lugares, por esse mundo fora… Que acontecem todos os anos.

E, agora, destas de Valência!   (…)

 

 

06
Out24

Notas sobre o casamento na Aldeia da Mata (III)

Francisco Carita Mata

TRABALHOS DO INSTITUTO DE ANTROPOLOGIA

«DR. MENDES CORRÊA»

FACULDADE DE CIÊNCIAS DO PORTO

Director – Prof. Doutor A. Rozeira

Nº 10

Notas sobre o casamento na Aldeia da Mata

Por

Agostinho F. Isidoro 

PORTO

1971

( ...   ...   ... )

(... ...  ...)

«...A voda ou função, designações que se dão ali à festa do casamento, tem normalmente a duração de dois dias e um quartel: tarde de sábado, todo o domingo e toda a segunda-feira seguinte.

Esta festa é realizada pelos pais dos noivos separadamente uns dos outros, isto é, os pais do noivo realizam-na em sua casa e os da noiva na sua casa também.

O dia da cerimónia religiosa ou civil é geralmente o domingo. No sábado de tarde e no domingo os noivos comem ainda na casa dos pais. Na segunda-feira o pequeno almoço é-lhes levado a casa deles da casa dos pais dele ou dela. As refeições seguintes, nesta primeira semana, são-lhes oferecidas, ora na casa dos pais do noivo, ora na casa dos pais da noiva. Por isso diz-se ali que na semana a seguir ao casamento os noivos andam ainda a comer da voda.

Durante os dias da voda, as refeições, que são abundantíssimas, são servidas, separadamente nas casas dos pais dos noivos.

Os pais dos noivos chegam a matar uma dúzia de cabeças de gado (ovelhas ou badanas e cabras) (fig.1) e vários galináceos.

Nestas funções não falta o arroz de maranhos (arroz cozido com pequenas porções de intestino delgado do gado abatido), as sopas de sarapatel (1), o afogado (2), o cozido à portuguesa, os bolos, o arroz doce, o vinho em abundância, etc..

Estas iguarias são cozinhadas em grandes panelas e caçolas de barro, compradas a oleiros e Flor da Rosa, que no dizer do povo, lhes conferem um sabor especial (3).

Chegada a hora da cerimónia nupcial, na tarde de domingo, os noivos, preparados em casa dos seus pais, despedem-se deles pedindo-lhes a bênção e abraçam a família mais chegada. São momentos de choro para todos, por se recear da sorte dos nubentes.

Agora o noivo, acompanhado dos seus convidados (fig. 2), deixa a casa paterna e vai a pé buscar a noiva, que se encontra em casa dos pais dela. Aqui forma-se o cortejo nupcial. A noiva vai à frente vestida a rigor, ladeada pelos seus padrinhos, todos seguidos pelos convidados (fig. 3). Os espectadores, entre os quais há amigos dos noivos, mas que não foram convidados e muitos curiosos (fig. 6), formam grupos ao longo do trajecto do cortejo nupcial.

Terminada a cerimónia, os noivos, ao lado um do outro e com o acompanhamento atrás, regressam a casa dos pais da noiva (fig. 4), onde esta ficará até à noite, à espera que o noivo e os convidados a vão buscar.

Aqui a madrinha da noiva, colocada na janela da casa ou na soleira da porta, atira aos convidados e a pessoas estranhas ao casamento, que sempre se juntam nessa ocasião na rua em frente à casa, amêndoas, rebuçados, nozes e amendoins (ervelhanas). Isto dá origem a grande rebuliço e até a gritaria, pois todos querem apanhar à uma o que a madrinha lhes atira. É altura para encontrões, quedas e às vezes atritos pessoais.

A seguir é servido um copioso copo de água a todos os convidados, constituído especialmente por muita variedade de bolos e diversas bebidas, após o qual o noivo com os seus padrinhos e todos os convidados se dirige para casa dos seus pais (fig. 5), onde a sua madrinha atira também amêndoas, rebuçados, etc.

Aqui é servido outro copo de água a todos os convidados, semelhante ao anterior.

O resto da tarde de domingo é destinada a divertimentos. Uns dão voltas às ruas em grupos, outros, os mais jovens, realizam balhos, que se prolongam pela noite adiante. (...)»

 

05
Out24

Notas sobre o casamento na Aldeia da Mata (I)

Francisco Carita Mata

TRABALHOS DO INSTITUTO DE ANTROPOLOGIA

«DR. MENDES CORRÊA»

FACULDADE DE CIÊNCIAS DO PORTO

Director – Prof. Doutor A. Rozeira

Nº 10 

Notas sobre o casamento na Aldeia da Mata 

Por

Agostinho F. Isidoro 

PORTO

1971

*******

«Notas sobre o casamento na Aldeia da Mata»

«Aldeia da Mata é uma das mais importantes freguesias do concelho do Crato, Alto Alentejo.

Fica a oeste, e a 8 Km, da vila do Crato, numa altitude de uns 219 m, assente na cumiada dum monte com a orientação norte-sul.

Em sua volta os terrenos são pobres com abundantes afloramentos graníticos.

O censo de 1960 dá-lhe uma população de 1172 almas e 411 fogos.

Nestes últimos anos a população tem diminuído muito por causa do êxodo de muitos dos seus habitantes, como tem acontecido em muitas outras terras do nosso país.

Uns, emigram definitivamente, outros, fazem temporadas de trabalho na Beira-Baixa e Ribatejo, na época das lenhas, nas vindimas e na apanha da azeitona.

Aldeia da Mata perdeu já muitos dos seus costumes antigos e aspectos da sua vida comunitária, como os fornos de cozer o pão, a adua, etc., por causa das fáceis comunicações ferroviárias e rodoviárias, com outras povoações e vilas.

No entanto conserva ainda no casamento dos seus filhos muito do ritual do passado.

Nesta aldeia, quando nasce uma filha a um casal, é preocupação da mãe, começar a tratar do enxoval do seu casamento, cujas peças depois de compradas, vão sendo colocadas numa arca.

As peças são as mais variadas, desde roupas da cama, designadas por fato, às louças de porcelana e de esmalte, até às de ouro tais como: anéis, fio de ouro, grilhão e cordão.

Muitas destas peças são compradas nas feiras realizadas anualmente em Flor da Rosa, Crato, Chança, Ponte do Sor, Nisa, Portalegre, etc..

Em Aldeia da Mata, com raras excepções, os casamentos são realizados entre os seus habitantes. Mesmo aqueles que na idade do namoro a vida leva para outras regiões, não partem sem deixar ali a sua conversada.

Depois do namoro, que é mais ou menos longo, e que durante muito tempo era consentido em dias determinados e sob os olhares da mãe, os pais do rapaz vão a casa dos pais da rapariga e pedem a filha para o filho.

Geralmente os casamentos ali são realizados com o agrado dos pais.»

(II …  ...)      (III ...  ...  ...)  (IV ... ... ... ...»

 

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