«O Ti Domingos Cego» - Aldeia da Mata
Um parêntesis na narrativa sobre J. P. Dias… ou talvez não!
«Das informações que tive, o Ti Domingos Cego, aos três meses de idade ainda via. Era filho de famílias pobres e, como tal, cedo começou a estender a mão à caridade para a sua sobrevivência, para o que muito lhe valeu a sua grande orientação quando ia pedir às povoações mais próximas. Para justificar o merecimento que as fatias de pão tinham para si, agradecia com umas modas que tocava na sua guitarra.
Eu ainda era miúdo, mas lembro-me de andar atrás dele a pedir que me desse uma corda partida da guitarra, mas já não sei se fui atendido. As pessoas que o conheciam bem dizem que ele tinha muito tacto nas ruas da nossa terra quando pedia porque ao chegar a qualquer casa chamava pelo nome da pessoa.
Faleceu na estrada que nos liga com o Crato, na recta do Cardoso, na vala do lado do Couto Vila Glória, alguns metros mais a nascente da entrada para esta propriedade. Foi no Inverno, de noite e chovia.
Contam que nesse tempo havia grandes bailharadas no Terreiro, e o Ti Domingos deixou fama de grande animador desses bailes, a troco de uns tostões para o caldo.
Depois de lhe darem uma cadeira ao jeito dele e de estar bem acomodado dizia aos rapazes: - Agora vamos a elas, deixem-nas comigo, ó rapaziada para ver quem se nega…
E foi assim o Ti Domingos, por ele os bailes nunca acabavam.»
In. “A Nossa Terra” – Purificação, João Guerreiro da – Há Cultura / Associação de Amizade à Infância e Terceira Idade de Aldeia da Mata, 2000. pág.283
Esta é a breve história, contada pelo Sr. João, no livro citado, verdadeira “Enciclopédia da Aldeia do séc. XX”, sobre este personagem peculiar de Aldeia da Mata, que acompanhava o Srº Joaquim Pedro “Cego” e a Sr.ª Conceição “Cega” à Horta do Carrasqueiro.
Ele ainda era vivo na década de trinta, quando o Srº João Guerreiro da Purificação era miúdo.
Tal como a Srª Conceição “Cega” também ainda era viva.
O Sr. Joaquim Pedro “Cego” já era falecido.
Relativamente a este personagem principal desta narrativa, além de não saber quando nasceu, também não sei se terá falecido na 2ª década do séc. XX (1911 – 1920), se já terceira (1921 – 1930)! (A “Casa” tem registado 1911! Logo, era vivo no dealbar dessa década.)
Também não sei quando terá cegado. Todavia, estando na Ermida registado 1901, terá sido em data anterior.
Terei de saber se na Horta de Sampaio há algum registo, porque foi na construção do monte que a ocorrência se deu.
Há que pesquisar!
(Interessante também registar que ocorrências importantes na Vida deste Sr. se processaram no dealbar da Monarquia para a República!)
Saúde! E muito Obrigado por seguir estas histórias. Que haja Paz!
E Feliz "Dia da Mulher"!